Que
me lembre e desde que me reconheço e me entendo por gente, que me questiono e
me interrogo sobre questões existenciais como: quem sou eu, o que é a vida, o
que estamos todos aqui a fazer, etc… um rol de perguntas que me vinham à
cabeça, e ainda mais o porquê de estar sempre a pensar nessas coisas. As outras
pessoas não pensavam nessas coisas, achava eu. Viviam a sua vida, o que quer
que ela fosse, levantavam-se e deitavam-se, seguiam a sua rotina e o seu rumo,
sem essas preocupações, pensava eu… enquanto que eu estava sempre numa luta
comigo mesma por causa dessas respostas que, ao mesmo tempo, não tinha onde ir
buscá-las. Se tentava perguntar, logo me conseguiam fazer mudar de assunto,
dizendo-me que quando crescesse haveria de saber. Mas isso era muito tempo!
O
facto é que toda a gente parecia conviver bem sem falar e sem querer saber
disso, o que para mim era um verdadeiro enigma. Como era possível não se
olharem no espelho sem conseguirem ir ao seu interior? Quando me via no
espelho, para além do que estava à vista, sentia sempre que havia mais do que
isso. Eu não era só o aquilo. E achava que os outros também não. Para mim, em
cada criatura, havia o exterior e o interior, que não era assim tão interior. E
então, esse interior que me parecia envolvido de mistério e segredos, onde
estava ele, o que era isso?
A
minha família era católica por tradição e, portanto, a igreja foi-me imposta
desde sempre. Não pelos meus pais, que não faziam questão de ser religiosos,
mas pela restante família, avó e tios. Além disso, a escola também fornecia
educação católica e tudo era muito católico na minha vida. Como gostava de
saber das coisas e como era suposto a bíblia conter toda a verdade da vida, eu
lia.
A
caquetese era a única base de informação a que tinha acesso. Havia caquetese na
igreja e catequese na escola. E todas as crianças aprendiam o que vinha nos catecismos
e só isso. E ouviam e decoravam aquelas coisas todas que tinha que se saber na
ponta da língua, desde a mais tenra idade, porque seriam guardadas para nos
acompanharem pela vida fora até sempre. Quem é Deus? Deus é o nosso pai do céu.
Onde está Deus? Deus está em toda a parte.
E assim por aí adiante.
Questionar?
Impossível. Questionar, só por si, já era um grande pecado. Tudo era muito
sagrado, inalterável e imutável. E todas as histórias que nos contavam e que se
liam na Bíblia, eram um grande mistério. Pai do céu?!... Em toda a parte?!...
Mas se diziam que era assim, assim tinha que ser. E a minha “formatação”
começou a trancar-me, como aconteceu com tanta gente. Não há perguntas, não há
questões. Há que acreditar e aceitar, caso contrário, caíamos em pecado e íamos
para o inferno. Um horror! Eu tinha pesadelos. E não era só eu. Havia outras
crianças a quem acontecia o mesmo. Pelo menos isso ajudava-me a identificar-me
um pouco com alguém e a não me sentir tão infeliz e tão só.
Fui
crescendo e, apesar de tudo, a informação foi chegando de variadíssimas
maneiras. Os meus olhos iam-se abrindo e o meu espírito sempre pedindo mais.
Todavia, sempre que lia a Bíblia, apesar das contradições e das questões
confusas, eu ainda estava “formatada” e havia muita coisa que ainda não tinha
chegado, por causa do “véu” que me cobria desde criança. É difícil. É mesmo
muito difícil. E quando pensamos que já crescemos espiritualmente e já nos
livrámos de toda a carga do passado, é mentira. A coisa ainda está lá bem enraizada,
e assim somos apanhados de surpresa. O que fazer?
Meu
filho Henrique, quando era criança, recebeu de presente da avó paterna um livro
de histórias intitulado “A Bíblia para crianças”. O livro tinha desenhos
bonitos, alusivos às diversas passagens bíblicas mais relevantes e adaptados às
crianças. E como ele gostava que lhe lesse uma história já na cama, antes de
dormir, achei que não havia mal nenhum nisso, e comecei a ler-lhe a bíblia. E
devo dizer que foi esse o meu grande “despertar”. Foram essas leituras
inocentes, a uma criança sem vínculos à religião, virgem na sua formação de ser
humano, livre de dogmas e formatações, que me fizeram abrir os olhos e despir a
totalidade do véu que tudo embaciava. Foi o meu filho de cinco aninhos quem me
ensinou a ler a Bíblia. Lembro-me como se fosse hoje. Até levantou a cabeça do
travesseiro com a indignação da contradição que se deparava.
A
história era a de Abel e Caim. Caim, filho de Adão e Eva, supostamente o
primeiro homem e a primeira mulher, como todos sabem, mata seu irmão Abel. Perante
isto, e como castigo, Deus expulsa-o do Paraíso e fica com medo de que alguém o
mate. Esta é a história, sem entrar em mais detalhes, porque não necessita. E o
meu querido filho, incomodado, pergunta “mas se não existe mais ninguém além de
Adão e Eva, quem é que o vai matar? Perante esta observação fiquei a gaguejar e
na verdade sem resposta. Mas foi aí que se deu o verdadeiro clique.
Perguntando
a mim mesma se alguma vez eu tinha pensado nisso, para ser sincera, claro que
sim. A questão é que, muito provavelmente fechava os olhos, porque ainda estava
programada para aceitar tudo o que lia, sem sinal da mais pequena dúvida ou
observação, apesar de já estar numa fase de “desmame”, isto é, de grande afastamento
da religião. Mas foi aí que fui obrigada a pensar e repensar que a criança
tinha razão e que eu sempre soube que aquilo era uma grande mentira ou
simplesmente uma história mal contada.
Recentemente,
adquiri um livro muito interessante, intitulado “A Bíblia não é um Livro
Sagrado” de um autor Italiano, Mauro Biglino, e como foi bom ler esse livro! É
que, finalmente, alguém via as coisas da mesma perspectiva que eu. Alguém com
bases e formação correcta, falava do que sempre se escondeu por trás dos panos.
Alguém que teve a coragem e a lucidez de mostrar o que é e o que não é. E
assim, a páginas tantas, mais precisamente na página 146 do referido livro,
pode ler-se:
“Após
ter assassinado Abel (Gn. 4), Caim não foi punido, mas simplesmente afastado e
naquele momento exclama apavorado: “Seja quem for que me encontre, matar-me-á”.
Mas quem poderia ser este “seja quem for”, já que sobre a Terra deveriam
existir somente os seus pais, Adão e Eva?”
E
mais… continuando, o autor descreve:
“A
narração bíblica prossegue, informando-nos de que ele encontrou uma esposa,
teve um filho e construiu uma cidade… Mas, para quem construiu ele uma cidade,
se não existiam outros homens?”
Quando
li isto, logo me veio à memória esse episódio do meu filho, criança,
chamando-me a atenção para o facto. Parecia que tinha sacado do meu livro de
memórias aquela situação embaraçosa da falta de poder para responder. Passaram
mais de trinta anos, mas aquela memória foi de imediato accionado, tão
embaraçosa fora a situação.
E
assim, por aí adiante, o autor vai descortinando tudo e pondo a nu uma verdade
que se esconde por uma eternidade sem fim. Tal como ele, na verdade não penso
que a bíblia seja uma mentira. Acho é que foi interpretada da maneira que deu
jeito e por quem assim o quis. Umas vezes por falta de informação nas questões
da tradução, outras vezes porque era o que dava jeito. A ignorância da
humanidade sempre foi muito bem aproveitada. É sempre importante, pois assim é
bastante mais fácil conduzi-la. O “sagrado” é coisa que não existe nesse
contexto. A elaboração do “homo sapiens” é um projecto pensado e elaborado por
seres alienígenas com tecnologias impensáveis para nós. As igrejas e demais
locais de culto não foram construídos para essa função, mas adaptados a isso,
simplesmente porque eram a “morada dos deuses”. E a morada dos deuses era tudo
que havia de mais profano sobre a terra.
Durante
grande parte da minha existência procurei, procurei, procurei… até que um dia
encontrei esta preciosa coisa que me fez para de procurar, porque aí estava
contida uma verdade intemporal, que me fez parar as buscas incessantes e
sossegar:
“A
vida é evolutiva e nunca criada a partir do nada. Todos estamos ligados.” - Pasteur
pensou, Pasteur escreveu.
E
quando li isto, percebi que tinha encontrado a resposta. É que, na verdade, não
havia nada para procurar, mas apenas “assistir” à evolução, à passagem do
tempo. Somos viajantes do espaço, por mais que isto seja difícil de encaixar. Todas
as igrejas e demais lugares “santos”, carregados de ouro e outros metais
preciosos roubados à mãe terra, não passam de uma pequena amostra do orgulho,
da vaidade e da soberba dos “deuses” que por aqui passaram e alguns por aqui
ficaram, misturando-se com a obra que criaram à sua imagem e semelhança, para
seu próprio benefício – o homem, o Adam ou ADN. Israel e a Palestina é uma
guerra sem fim que não faz o menor sentido, simplesmente porque é uma guerra
que não é nossa, mas dos “deuses” que a começaram e nunca mais acabou.
Somos
o resto, os restos de uma mega civilização que se adiantou e se aproveitou do
nosso ADN de todas as maneiras e feitos. Tudo o que somos de bom e mau está aí.
Está na hora de acordar e crescer.
Com
todos os dramas, complicações, aflições de todo o género, catástrofes e
epidemias, temporais e outras coisas mais, até hoje não sei se a vida faz
sentido ou não. Mas é bom viver.