Quando eu era criança tinha a mania de tapar os buracos dos
carreiros de formigas. Sempre que ia brincar para os jardins, aí andava eu à
caça delas e dos buracos. Até que um dia, estando com o meu pai, que presenciou
uma cena destas, logo se insurgiu, perguntando-me porque razão estava a fazer
aquilo, que não deveria fazer em hipótese alguma.
Fiquei muito consternada e na minha inocente ingenuidade,
respondi-lhe que corria a tapar os buracos porque eram muito grandes e elas
podiam cair lá dentro e morrer sufocadas. Com tal resposta, o meu pai logo
percebeu que eu fazia aquilo sempre que encontrava formigas e voltou a ralhar,
dizendo-me que não o podia fazer, explicando que os buracos eram as casas das
formigas, por isso elas caminhavam para lá, sim.
Com esta explicação fiquei sem palavras e sem acção. O que ele
acabava de me dizer era algo pertinente e agora eu estava em aflição comigo
mesma. Acabava de perceber que era uma potencial assassina de formigas e que ao
invés de as salvar, as matava, sendo que não era essa a minha intenção, de
jeito nenhum.
Era bem criança, mas lembro-me perfeitamente de ter pensado
em quantas asneiras fazemos por ignorância e se o meu pai não estivesse
presente e não me tivesse feito aquela chamada de atenção para me corrigir,
certamente eu continuaria a fazer o mesmo, matando todas as formigas que
encontrava, convencida de que estava a salvá-las. Por momentos senti-me muito
mal comigo mesma e completamente frustrada, como se tivesse acabado de receber
um atestado de estupidez ao mais alto nível. Matar as formiguinhas, um bichinho
tão pequenino, tão indefeso! Eu era muito má. Como era possível?
Pela vida fora nunca me esqueci daquele episódio porque ele foi um
grande alerta para mim, apesar de ser muito pequena. O que me ficou, foi as
coisas erradas que fazemos apenas por ignorância! E não devem ser poucas. Ao
longo de toda uma vida esse somatório deve atingir um número alarmante. O que
fazer? Não nascemos ensinados!?
Até hoje, toda a minha aprendizagem tem sido no sentido de
esvaziar a ignorância e a importância que dou a tudo, desde as mais pequenas
coisas, tem que ver com evitar danos por conta da desinformação. Já basta o que
fazemos errado voluntariamente, porque somos como somos.
Quando dizemos que errar é humano, não estamos a dizer que errar é
desumano e essa é a verdade verdadeira. Errar é desumano. E se muitas vezes não
sabemos que não estamos no caminho certo, porque acontece, também muitas e
muitas vezes sabemos bem que estamos no lado errado e nem por isso nos
importamos. Parece que é importante fazermos o “mal”. Isso, porque o nosso ego
nos está a dar força para continuar, por alguma razão específica.
No momento, Brasil e Estados Unidos da América, através dos seus
líderes, fazem uma escolha, uma escolha que não é pacífica, nem um pouco, mas
fazem-na, querendo mostrar ao mundo que a sua escolha é certa: armas para
todos. Eles sabem ou não sabem que é a escolha errada? Eles sabem. Aqui não há
ignorância possível. Até uma criança compreende isso. A quem querem eles
convencer de que as armas vão “salvar” seja o que for? Armas não são para
salvar. Armas são para matar. E um povo que apoia uma decisão destas está a
sujeitar-se a uma sentença de morte, seja de que maneira for, porque tudo está
sujeito a uma lei universal que ninguém tem o poder de alterar, simplesmente
porque é inalterável: a lei de causa e efeito.
Tanto quanto sei, só há um caminho: baixar armas. Acabar com todo
o material de guerra. É difícil, é complicado? Porquê? Acaba-se o negócio das
armas? Quem está interessado nisso?!
Se não houvesse armas, haveriam outras guerras, mas essas guerras
seriam de outra natureza. Guerras de consciência, que apenas teriam egos para
trabalhar, mas isso seria pouca coisa, naturalmente, porque não adianta saber
mundos e fundos, ser isto e aquilo, se não soubermos o básico. Isto significa
que temos um mundo com líderes que sabem muito, ou muito pouco, eu diria, pois
até hoje não aprenderam a fazer o trabalho de esvaziar a ignorância. E esses
sim, matam formigas, não por falta de informação, mas porque lhes dá prazer. Um
prazer mórbido, delinquente. E o mundo inteiro atento ou desatento… aplaude(!)…