Translate

sábado, 31 de julho de 2021

Céu azul - 66

 

A vila acorda ao som da passarada. Das gaivotas e tudo o mais, mas sobretudo das gaivotas, que falam umas com as outras a torto e a direito e até parece que falam com os humanos como se fazendo entender, numa conversa que nunca mais acaba, alto e bom som. Os incomodados que se mudem!

A vida está de volta com todo o sol brilhando na fusão do mar com o céu azul ao fundo, numa tela imensa onde tudo se reflete, com as palmeiras que levemente balançam ao sabor da aragem… enfim, com toda a rotina inerente à vida.

É o mercado com os compradores e os mercadores, a feira com os feirantes, os que vendem e os que compram. A azáfama completa de apenas mais um dia. É só mais um dia. Mas não é. É um dia especial como o são todos os dias. Mas o que o faz mais especial é o despertar da consciência de uma maneira diferente. É quando todos os canais se abrem proporcionando o desfrutar de toda a plenitude que é a vida, com todos os sons, todas as cores, toda a existência maravilhosa num maior contacto com a natureza. Mas parece que só as gaivotas têm essa consciência(?!).

E isso sim, é diferente, porque não é o quotidiano. Para muitos são as férias desejadas, para outros é mesmo só mais um dia a seguir ao outro. Contudo, para todos, a vila acorda em grande estilo, com tudo a funcionar. São os que já vão para a praia, os que ainda ficam na cama a descansar um pouco mais, os que já estão na cozinha a preparar as refeições, os que se dirigem ao mercado ou aos supermercados para comprar o que é preciso e o que não é. A vila pode até fazer uma pausa à noite, enquanto todos dormem. A vida, essa não pára, não descansa.

É sim mais outro dia, mas em que podemos sempre fazer igual ou diferente. Um dia em que podemos estar em plena sintonia com o universo e “despertar” do sono em que estamos adormecidos a vida inteira, no qual vive mergulhada a humanidade. É uma oportunidade quase única, porque tudo nos passa sempre ao lado, despercebido, sem nada valorizarmos, sem uma percepção diferente do habitual.

É uma manhã que não está em calendário nenhum, porque não importa o dia da semana ou do mês e nem do ano. O que importa é que está selada nos registos akáshicos como imperdível e trazendo um prazer absoluto à existência do ser humano, mas muito mais do que isso, à alma, porque é nessa sintonia que conseguimos a união e a inserção com o Todo.

É um daqueles momentos únicos de rara beleza, em que o espírito fala mais alto e se sobrepõe a toda a matéria, não esquecendo o seu valor, mas situando-se muito para além da vulgaridade. E do mesmo modo que não importa o lugar do calendário, também não importa o lugar físico.

Não se trata de dormir na cama de um hotel de luxo de cinco estrelas; entre as sedas finíssimas de um palácio, ou das rendas riquíssimas de um ”castelo”. Não importa se há paredes e um tecto, conforto ou desconforto. Este despertar único pode até ser sobre pedras, sobre a terra, sobre a água… 

O que o diferencia verdadeiramente, dando-lhe o poder de tamanha transformação dos sentidos, é o infinito de um céu azul sem igual.