A
vila acorda ao som da passarada. Das gaivotas e tudo o mais, mas sobretudo das
gaivotas, que falam umas com as outras a torto e a direito e até parece que
falam com os humanos como se fazendo entender, numa conversa que nunca mais
acaba, alto e bom som. Os incomodados que se mudem!
A
vida está de volta com todo o sol brilhando na fusão do mar com o céu azul ao fundo, numa tela
imensa onde tudo se reflete, com as palmeiras que levemente balançam ao sabor
da aragem… enfim, com toda a rotina inerente à vida.
É o
mercado com os compradores e os mercadores, a feira com os feirantes, os que
vendem e os que compram. A azáfama completa de apenas mais um dia. É só mais um
dia. Mas não é. É um dia especial como o são todos os dias. Mas o que o faz
mais especial é o despertar da consciência de uma maneira diferente. É quando
todos os canais se abrem proporcionando o desfrutar de toda a plenitude que é a
vida, com todos os sons, todas as cores, toda a existência maravilhosa num
maior contacto com a natureza. Mas parece que só as gaivotas têm essa
consciência(?!).
E
isso sim, é diferente, porque não é o quotidiano. Para muitos são as férias
desejadas, para outros é mesmo só mais um dia a seguir ao outro. Contudo, para
todos, a vila acorda em grande estilo, com tudo a funcionar. São os que já vão
para a praia, os que ainda ficam na cama a descansar um pouco mais, os que já
estão na cozinha a preparar as refeições, os que se dirigem ao mercado ou aos
supermercados para comprar o que é preciso e o que não é. A vila pode até fazer
uma pausa à noite, enquanto todos dormem. A vida, essa não pára, não descansa.
É sim
mais outro dia, mas em que podemos sempre fazer igual ou diferente. Um dia em
que podemos estar em plena sintonia com o universo e “despertar” do sono em que
estamos adormecidos a vida inteira, no qual vive mergulhada a humanidade. É uma
oportunidade quase única, porque tudo nos passa sempre ao lado, despercebido,
sem nada valorizarmos, sem uma percepção diferente do habitual.
É uma
manhã que não está em calendário nenhum, porque não importa o dia da semana ou
do mês e nem do ano. O que importa é que está selada nos registos akáshicos como
imperdível e trazendo um prazer absoluto à existência do ser humano, mas muito
mais do que isso, à alma, porque é nessa sintonia que conseguimos a união e a
inserção com o Todo.
É um
daqueles momentos únicos de rara beleza, em que o espírito fala mais alto e se
sobrepõe a toda a matéria, não esquecendo o seu valor, mas situando-se muito para
além da vulgaridade. E do mesmo modo que não importa o lugar do calendário,
também não importa o lugar físico.
Não
se trata de dormir na cama de um hotel de luxo de cinco estrelas; entre as
sedas finíssimas de um palácio, ou das rendas riquíssimas de um ”castelo”. Não importa
se há paredes e um tecto, conforto ou desconforto. Este despertar único pode
até ser sobre pedras, sobre a terra, sobre a água…
O que
o diferencia verdadeiramente, dando-lhe o poder de tamanha transformação dos
sentidos, é o infinito de um céu azul sem igual.