Quinze
dias após o nascimento da minha neta Sofia, estava na minha vez de ir para
Inglaterra, mais propriamente para Cambridge, onde eles residiam, para dar
assistência à jovem família e conhecer ao vivo a minha pequenina e a mais recente
chegada à família.
Um
dia saí com a minha querida nora, a Tânia, para irmos fazer compras ao
supermercado e tive que ser eu a conduzir para ela poder ficar no banco de
trás, dando assistência à bebé.
Conduzir
em Inglaterra pode dizer-se que não foi nada fácil. Eles habituaram-se
rapidamente. Para mim foi um suplício. Era muita coisa ao mesmo tempo.
Primeiro, o facto de estar sentada no lado contrário ao que era habitual.
Segundo, andar na faixa contrária e todo o trânsito a correr no sentido contrário,
era um permanente susto. Finalmente, o GPS que eles usavam era sempre em inglês
e se bem que não fosse difícil entendê-lo, em condução, tudo se tornava mais
complicado, com tendência a bloquear a minha acção.
Cada
vez que precisava de meter mudanças, porque não era um carro automático, lá ia
eu com a mão direita, assim como o travão de mão, não havia uma única vez que o
fizesse logo à primeira com a mão esquerda. Levava sempre em primeiro lugar a
mão direita e só quando percebia que não o encontrava é que, rapidamente, ia
com a mão esquerda. Por mais curto que fosse o trajecto, até porque Cambridge é
uma cidade pequena, quando chegava, estava sempre exausta, por todo o esforço
que era obrigada a fazer para me concentrar em tudo ao mesmo tempo. Mas
enfim, só conduzia quando era mesmo necessário.
Vínhamos
carregadas do supermercado e estava na hora de dar de mamar à pequena Sofia,
que não gostava de se fazer esperar. Estacionei o carro mesmo em frente à porta
de casa, mas no lado oposto da rua, dado que normalmente não usávamos o
estacionamento da garagem. Saí e tirei todos os sacos do supermercado, enquanto
a Tânia se ocupava da Sofia. Quando abrimos a porta de entrada do prédio e já
estava tudo junto ao elevador, a Tânia chama-me, aponta para fora e muito
ansiosa diz “o carro… o carro!”…
Não
percebendo exactamente o que ela queria dizer, olhei para onde apontava e então
percebi. O carro estava a deslizar, a deslizar, ou seja, a andar
sozinho para trás. Logo me lembrei que me tinha esquecido de puxar o
travão de mão e largando tudo, fui a correr que nem uma doida, sem saber
exactamente o que fazer. Ou abria o carro e entrava para o travar ou me punha
atrás dele para travar o andamento. E enquanto corria pensava em qual das duas
situações seria melhor, mas isto em fracções de segundo.
Havia outros carros estacionados e se não tomasse uma resolução rápida podia
ser complicado. E ainda nem bem tinha decidido o que fazer, quando percebi que
o carro tinha parado. Não sabia porquê, mas uma vez parado, abri, entrei e
então puxei o travão de mão.
Entretanto, vim cá fora para ver se estava bem naquele sítio ou se
seria melhor chegá-lo um pouco à frente e só então reparei que o passeio, isto
é, a calçada, não era em linha recta, fazia uma ligeira diagonal para o sentido
da estrada, o que fez o carro travar, porque o pneu encontrou resistência.
O susto não foi pequeno e a minha condução em Inglaterra, por mais
que fosse necessária e que mais tarde nos tivesse dado muita vontade de rir,
acabava ali. Ponto final. Só voltaria a conduzir em Portugal.