Sofia
nasceu a 27 de Junho de 2011, o que fez com que 2011 tivesse sido um dos anos
mais felizes e importantes da minha vida. E nasceu em Cambridge, porque o pai
estava a trabalhar na Microsoft. É claro que isso fez com que os avós tivessem
que se deslocar a Inglaterra, para verem de perto aquela miniatura de gente,
pela primeira vez, o que não era pouca coisa. Era uma alegria e uma felicidade imensa.
Por questões familiares, fui a última da lista e quando lá cheguei, Sofia estava
com quinze dias de vida. Era mesmo uma coisinha pequenininha, tão pequenina,
que eu não me lembrava mais, de como eram pequeninos os bebés quando nascem.
Quando
cheguei perto dela, estava ao colinho da sua linda mommy, pois tinha acabado de
mamar. Era uma grande felicidade, ver a minha pequenina pela primeira vez, ao
vivo e a cores, sem ser através das câmaras. Era mesmo uma niquinha de gente. E
eu pensava, meu deus, como vai esta coisinha vingar, crescer e ser gente!? Bem,
gente já ela era, mesmo dentro da barriguinha da mãe, mas uma coisinha tão fofa
e tão minúscula! Era uma emoção muito, muito grande.
Mas é
assim que todos nascemos e vimos a este mundo!? Pequenos demais e completamente
indefesos, esperando que cuidem de nós com todo o amor possível e com todos os
cuidados necessários, para podermos enfrentar este mundo maléfico e medonho,
onde há tanta ruindade, nomeadamente com as crianças, as nossas crianças, lindas
e adoradas e às vezes tão maltratadas por esse mundo fora.
Aí, a
minha tarefa começou: cuidar de tudo aos mínimos detalhes, para os pais se
sentirem confortáveis e poderem ter um pouco de descanso. Porque não? Se
pudermos fazer a diferença, porque não!? Apesar de já adultos e com um filho,
são sempre as nossas crianças. Assim, a minha rotina estava traçada sendo que,
de manhã à noite, havia sempre o que fazer. O pai ia para o trabalho e a mãe,
que tinha ido de propósito para Inglaterra, para que a sua menina nascesse com
o pai presente, ficava em casa cuidando dela.
Todos
os dias eu fazia uma pequena limpeza à casa, interior e exterior, a fim de a
manter sempre limpa. Todos os dias eu cozinhava, cuidava da roupa e saíamos
para ir às compras. Compras no supermercado ou compras para a pequenina, com
alguma coisa que sempre faltava e nos fazia ir, entre outras lojas, à Mothercare,
onde havia de tudo para miniaturas de gente.
O
bairro onde eles viviam era muito agradável. Os prédios eram todos individuais,
em vez de colados uns nos outros. Todo o espaço em volta era cuidadosamente
ajardinado e fiel ao estilo rústico, tão característico dos ingleses e de que
eu tanto gosto. A varanda era enorme, onde havia uma mesa com cadeiras e ainda espreguiçadeiras
para relaxar. Todos os dias de manhã passava um camião da Câmara, com grandes
mangueiras, para limpar as varandas. Depois, era esperar que secassem e podermos
fazer uso daquele tão aprazível espaço.
Estar
naqueles apartamentos era como estar integrado na natureza, com todas as
comodidades mínimas à nossa disposição. Tudo o que fazíamos era rodeado de ar
puro, luz e beleza natural. Não havia cortinados. Todos os moradores tinham
sempre tudo aberto, inclusive nos quartos. Também não havia “mirones”, é claro.
Cada um preocupava-se consigo e nada mais. Se as pessoas se deitavam para
dormir ou descansar, era problema deles. Se estavam na cozinha, era lá com
eles. Fosse o que fosse que estivessem a fazer, não incomodavam nem eram
incomodados, com toda a certeza, o que era fantástico e que eu tanto admirava,
porque é o meu jeito de viver.
Sofia
passava grande parte do tempo, quieta, dormindo e acordando entre as mamadas, embalada
no seu baloiço da Mothercare, sem dar trabalho. Mas ao fim da tarde, a
pequenina chorava. A essa hora já o pai estava em casa e os dois punham-na no
carrinho e levavam a sua bebé para passear no jardim. Ela acalmava um pouco,
mas logo recomeçava o choro muito intenso, muito incomodada e muito irritada.
Ninguém sabia o que fazer para a calar, porque parecia que não queria nada, mas
o facto é que fazia a sua birra.
Ao
terceiro dia da minha estadia, pensei para comigo mesma que aquilo não podia
ser e tinha que haver uma maneira de ultrapassar aquela cena da criança chorar
tanto, sempre à mesma hora. E então, enquanto a mãe trocava a sua fraldinha,
percebi que ainda não lhe davam banho. Lavavam-na apenas como se fosse uma
recém-nascida. Mas porquê, se estava tudo bem com ela, se o umbigo estava
óptimo, não havendo motivo para descartar uma boa banhoca!? Falei com a minha
nora e disse-lhe que estava na hora da menina tomar banho de banheira, o que
lhe faria muito bem e na certa a acalmaria, porque todos os bebés adoram a
água. Ela ficou a olhar para mim, pensando e sem saber muito bem o que dizer.
Pensei…
é isso, está mais do que na hora. E na presença da mãe e do pai, comecei a
comandar as coisas para lhe dar banho, o que ao mesmo tempo serviria de
aprendizagem para os dois. E foi bem interessante ver a ansiedade de ambos,
querendo ver como segurar a menina, para não se afundar na água, como tê-la
toda por inteiro e completamente segura apenas numa mão, para ter a outra livre
e passar o sabonete, etc…
Por
esta altura eu tinha os dois, pai e mãe, um de cada lado. A pequena banheira
começou a encher e expliquei-lhes como saber se a temperatura da água estaria
bem. No dia seguinte, compraríamos um medidor da temperatura da água, para ser
mais fácil. Os dois estavam excitados e ao mesmo tempo maravilhados, pois era
uma novidade que entrava na rotina de ambos: a hora do banho da sua bebé. A
banheira ficou com o nível de água suficiente e a uma temperatura considerada
ideal. Sofia continuava a chorar ou a berrar, enquanto a roupinha ia sendo
tirada, e já o pai dizia que, no dia seguinte, seria ele a dar-lhe banho,
enquanto eu esboçava um sorriso de felicidade.
Finalmente,
toda nuazinha, segurei nela apoiada no meu braço direito, com o esquerdo a
ajudar, fazendo-a entrar aos poucos, aos pouquinhos, muito lentamente. Assim
que sentiu os pezinhos dentro da água quentinha, o choro dela, que por esta
altura era ainda mais forte, talvez pelo facto de estar despida, embora a casa
tivesse aquecimento, o seu corpinho deu sinal de algo diferente. Diferente, mas
agradável. Continuei a mergulhá-la devagarinho, com os dois muito ansiosos, um
de cada lado, e Sofia começou a acalmar. À medida que entrava na água e reconhecia
o conforto de um banho quente, o seu ar de satisfação era notório. O seu rosto
adquiria um sorriso esvaído, mas muito sentido, como quem diz: “mas o que é que
me está a acontecer?” Na verdade, era a primeira vez que entrava na água para
um banhinho. E aquela sensação não lhe passou despercebida, claro está. A sua
sensibilidade estava a registar todo o bem-estar que aquilo produzia no seu
minúsculo ser. Era como se nos dissesse: “é bom, é muito bom, podem continuar…”
Uma
coisa indescritível. Os pais, não menos deliciados do que ela. E eu sentia a
leveza de toda aquela situação, agradecendo à vida por me ter levado até lá,
permitindo-me ser a primeira a “baptizar” a minha pequena Sofia que, agora, já
completamente mergulhada na água, apenas com a cabecinha de fora, se deliciava,
com toda a água à sua volta. O choro já tinha desaparecido. O seu rostinho de
fúria e desagrado, dava agora lugar a um sorrisinho tão agradável e gostoso, que
dava gosto ver. Sofia estava deliciada com a sua banhoca e respirava fundo, descontraída
e relaxada. Sentia-se a felicidade dela em todo o seu ser, por todo o lado.
Estávamos impregnados daquela energia que nos iluminava a todos, trazendo-nos
imensa paz, amor e alegria. Sofia saboreava com prazer e deliciada, a sua nova
experiência nesta vida: o seu primeiro banho.