Rosinha
tem dificuldades acrescidas a outras tantas. Esteve muito tempo ausente e já
nem se lembra de como ligar o computador da sala de informática. Mas com um
pouco de ajuda para reavivar a memória, a coisa vai. Olinda já liga o computador
com facilidade, mas, mais uma vez, reclama, porque a palavra passe não é aceite.
Digo-lhe para introduzir novamente, mas o computador não aceita. Digo-lhe que
está errada, mas ela diz que não, que não está errada e que tem a certeza de que é
aquela. Mas o computador não aceita e ela fica bloqueada. Rosinha, entretanto,
já tem o computador ligado e puxa-me pelo braço para lhe dizer como é que entra
no email. Depois de entrar na página, esbarra no mesmo problema de sempre. Não se
lembra do seu próprio endereço electrónico e não trouxe os apontamentos. Vai
ligar para a filha para lhe resolver o problema.
Entretanto,
António, o professor de Informática, foi até Olinda, que continuava em apuros, ainda por causa da dificuldade da palavra passe que não entrava. Claro, estava
errada, mas o professor conseguiu a proeza de, mais uma vez, a recuperar. E o
senhor João? Ah, o sr. João, com a sua voz baixinha, que mal se ouve, diz-me que
hoje quer fazer um mapa de despesas no Excel. Pergunto-lhe se sabe trabalhar no
Excel, responde que já soube. Bom, se já soube, já é alguma coisa. Vamos a isso.
E começo a dar-lhe umas explicações, de como funciona uma folha de cálculo. Fica
radiante com as facilidades que o programa oferece. Quase em segredo, diz: “é
isso mesmo que eu quero”. Excelente, estamos no caminho certo.
E
Martim? Ah, Martim é uma graça. Um fofo! Um menino de setenta anos. Martim
chama por mim desde que se sentou, mas eu ainda não tinha conseguido lá chegar.
Finalmente, aproximo-me dele, que está sempre em aflições, mas não deixa de
sorrir. Martim quer enviar um mail para a filha, com um anexo, mas não sabe
como. Não sabe nada. Desde a semana anterior, já não se lembra como é que faz
para chegar à página dos emails. Todas as semanas ele começa sempre do início,
porque diz que já se esqueceu. Ele traz sempre o seu PC, para ser mais fácil
treinar em casa. Martim é alto, é grande, de olhos azuis e cabelos claros, é um
menino em ponto grande. Emagreceu uns bons quilos, como se pode ver pela forma
do seu corpo. Continua bem cheio, mas tem tudo pendurado. São as bochechas, é a
barriga, está tudo pendurado. Mas é um bem disposto, excepto quando a aula não
corre como ele quer.
Foi
à internet e escolheu algumas imagens que quer guardar para pintar na aula de
Pintura. Então pede para lhe explicar como é que envia uma daquelas imagens
para a filha, que depois tira fotocópia para ele reproduzir. Digo-lhe para
compor um mail, mas ele diz que não sabe como é que isso se faz, como se não o
tivesse feito já dezenas de vezes. Mas tudo bem. Digo-lhe que leia o que tem na
sua frente e veja onde se diz “compor” mas, Martim, desanimado, diz “não sei” e
olha para mim com um ar de desolado, como se estivesse completamente
desprezado. Agarra-me no braço e exige que me sente ao pé dele. Pronto,
faço-lhe a vontade, porque também não há alternativa. O professor não chega
para as encomendas, portanto fico a ajudar Martim. E com as minhas dicas,
consegue chegar onde quer, embora reclamando sempre, que aquilo é muito difícil.
Deixo-o entregue ao texto enquanto vou espreitar o Cid.
Cid
é um senhor de mais de setenta anos, de baixa estatura e magro. A sua forma de
falar é sempre na base da filosofia, filosofia muito própria dele. De modo que,
quando lhe perguntei se estava com algum problema, até tive que me sentar para
o ouvir, porque o tempo que ele demora a digerir e a engendrar a filosofia
adequada à minha pergunta, leva tempo, tanto tempo, que me obriga a sentar,
senão, ai das minhas costas, por estar tempo demais dobrada. E depois de
responder, a resposta abrange tudo o que se possa imaginar menos responder à
minha questão. Assim, pela segunda vez lhe faço a mesma pergunta e antes que
venha outra resposta evasiva vou-lhe dando indicações para ir trabalhando. E no
final das contas, também não sabe a palavra passe. Deixo-o a pensar, enquanto
volto para Martim, que já está novamente com o ar mais abandonado deste mundo.
Entretanto, o professor está na outra ponta com o Joaquim, a Pilar, a Carolina, que quer saber coisas do Face Book, etc…
Vamos
para o Martim, para o tentar acalmar. Martim quer enviar o anexo, mas não sabe
como. Digo-lhe sempre a mesma coisa: o que é que se faz quando se quer anexar
um documento? Pega-se num “clip”, não é? Ah, é verdade, diz ele, já sei e aponta
com o cursor. Clica e abre a caixa de texto do arquivo. E agora(?), pergunta
ele. Então, agora tem que ir procurar o seu anexo, digo-lhe eu, mas Martim já
não sabe onde está. Nem nunca soube, porque guardou sabe-se lá onde!? Com toda
a paciência do mundo, lá vou eu intervir, para tentar encontrar o que ele
pretende. Mas o anexo que Martim quer não aparece e fica muito triste, muito
infeliz, tal qual uma criança que não encontra o brinquedo que procura.
Martim
é um indivíduo inteligente e bem sucedido na vida. Contudo, não teve
experiência no campo da informática. Por isso, está agora a dar os primeiros
passos. E cada passo que dá é para ele um passo gigante, fazendo-o ficar muito
feliz com o que consegue. É por isso que é muito importante ajudá-lo e não só a
ele, mas a todos os que nos procuram para esta iniciativa.
A
minha paciência redobra. Digo a Martim para voltar atrás à procura do anexo e o
guardar no ambiente de trabalho, que é o sítio mais fácil para depois o
encontrar. Martim vai então novamente ao google buscar, uma vez mais, o anexo e
agora então guarda-o definitivamente onde lhe disse para o guardar e volta a
fazer um mail para agora sim, anexar o que pretende, até que, enfim, a pintura
lá seguiu o seu destino.
Mas
Martim quer ter a certeza de que aquilo seguiu. Digo-lhe para olhar um pouco
para cima e ler o que lá está: “a sua mensagem foi enviada. Para visualizar, clique aqui”. E Martim clica. Mas, ai… o que foi que aconteceu? Martim não está
nada satisfeito, nem um pouco, só faltando chorar. É que o anexo não foi direito,
diz ele, ficou com a ponta dobrada. Como? Não foi direito(?), perguntei. Sim,
diz Martim apontando para o écran, exactamente para o canto inferior direito do
anexo: “Não vê que ficou com a ponta dobrada?”… (!?)
Gostei muito desta história verídica. Ainda bem que gostas de ajudar os outros. Porque sem a tua ajuda não seriam possíveis estas aulas. Embora não deixem de ser muito cansativas, são muito gratificantes. Bjs. António
ResponderEliminar